Vitivinicultura na África do Sul

Á F R I C A    D O    S U L – V I T I V I N I C U L T U R A

Agosto.2011             Uma versão atualizada encontra-se em Agosto de 2011

por Wilson Moreira

Í N D I C E

I. HISTÓRIA

I.1.  A DESCOBERTA DA ÁFRICA DO SUL

I.2.  A COLONIZAÇÃO HOLANDESA. INÍCIO DA VITIVINICULTURA NA ÁFRICA DO SUL

I.3.  CRIAÇÃO DA PROPRIEDADE “CONSTANTIA ESTATE” E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE STELLENBOSCH. O VINHO DE CONSTANTIA

I.4   A PARTICIPAÇÃO DOS HUGUENOTES

I.5.  A COLONIZAÇÃO INGLESA

I.6.  A “PHYLLOXERA”

I.7.  AS GUERRAS ANGLO-BOER

I.8.  A CRIAÇÃO DA UNIÃO SUL-AFRICANA. O “APARTHEID”

I.9.  A “KWV – KOOPERATIEVE WIJNBOUWERS VERENIGING VAN ZUID-AFRIKA BKPT”

I.10. A NOVA ERA

II.  CARACTERÍSTICAS GEO-CLIMÁTICAS

II.1. O “WINE OF ORIGINS (WO)” PROGRAM

II.2. AS REGIÕES VINÍCOLAS

II.3. CLIMA

III. VITICULTURA

III.1. HISTÓRICO

III.2. AS CASTAS

III.3. A UVA PINOTAGE

III.4. A ÁREA OCUPADA POR VINHEDOS

IV.  VINICULTURA

IV.1. HISTÓRICO

IV.2. O “VINE IMPROVEMENT PROGRAM (VIP)”

IV.3. A INDÚSTRIA DO VINHO

IV.4. VINHOS FORTIFICADOS. VINHOS DE SOBREMESA. ESPUMANTES

IV.5. A ROTULAÇÃO DE VINHOS

IV.6. A PRODUÇÃO VINÍCOLA

V.   VINÍCOLAS SUL-AFRICANAS

VI.  TENDÊNCIAS DA VITIVINICULTURA

VI.1. NO MUNDO

VI.2. NA ÁFRICA DO SUL

VII. CONCLUSÃO

  

 

 Á F R I C A   D O   S U L  –  V I T I V I N I C U L T U R A

I – HISTÓRIA

I.1.  A DESCOBERTA DA ÁFRICA DO SUL

1.    A África do Sul foi descoberta pelo navegador português Bartolomeu Dias que, em 1488, aportou na Ilha de Robben, ao largo da atual cidade do Cabo, na  viagem que objetivava descobrir um caminho marítimo  para a Índia. A ilha foi, durante muitos anos, utilizada por navegadores portugueses, holandeses e ingleses como posto de reabastecimento.

I.2.  A COLONIZAÇÃO HOLANDESA. INÍCIO DA VITIVINICULTURA NA ÁFRICA DO SUL

2.    Em abril de 1652, o comandante holandês Jan van Riebeeck, da Companhia Holandesa das Índias Orientais, iniciou o processo de colonização da África do Sul e fundou a cidade do Cabo no extremo sul do continente africano, próxima à Montanha da Mesa (“Table Mountain”).

3.    E, em 1655, ao plantar as primeiras mudas de videiras na região daquela cidade, ele deu início à vitivinicultura da África do Sul, cuja história, que perfaz mais de 350 anos, mantém estreita correlação com os vários períodos de desenvolvimento do País, especiamente quanto aos problemas vividos ao longo dos períodos coloniais e do “apartheid”.

4.    Em 1659, foram prensadas, pela primeira vez, uvas na região do Cabo e o fundador da cidade, van  Riebeeck, produziu o primeiro vinho sul-africano.

I.3.  CRIAÇÃO DA PROPRIEDADE “CONSTANTIA ESTATE” E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE STELLENBOSCH. O VINHO DE CONSTANTIA

5.    Quando Simon van der Stel tornou-se o primeiro Governador do Cabo, ele encorajou ativamente o  cultivo de mais videiras e estabeleceu, em bases firmes, a indústria do  vinho na região do Cabo.

6.    Para tanto, em 1685 ele criou a vinícola “CONSTANTIA ESTATE” e fundou a cidade de Stellenbosch, que  passaram a funcionar como pontos referenciais de qualidade na fabricação de vinho. O “Vin de Constance” logo adquiriu boa reputação.

7.    Depois da morte de van der Stel, a vinícola entrou em decadência, mas reviveu em 1778, quando foi comprada por Hendrik Cloete, que realmente tornou o nome de “Constantia” famoso, especialmente ao produzir “dessert wines” derivados de um “blend” composto, em sua maioria, pela casta Muscat de Frontignan (Muscat Blanc à Petits Grains), pela tinta Potac, pela branca Muscadel e por uma pequena porção de Chenin Blanc.

8.    Sob a administração de Cloete, os vinhos de “Constantia” logo ganharam grande reputação através da Europa, comercializados pela Companhia Holandesa das Índias Orientais em leilões na Holanda, e durante muito tempo foram considerados como uns dos melhores vinhos do mundo, rivalizando, inclusive, com os mais destacados vinhos europeus.

9.    Dessa forma, os famosos “dessert wines” de Constantia conquistaram para a região do Cabo a  qualificação de zona produtora de vinhos “premium”, com um destaque global no mercado internacional.

I.4.  A PARTICIPAÇÃO DOS HUGUENOTES

10.    Em 1688, huguenotes (protestantes franceses), que fugiram da perseguição religiosa na França, se estabeleceram na região do Cabo. Eles fundaram o distrito de Franschhoek (“Cantão Francês”) e contribuiram significativamente, na época, com a melhoria da qualidade na produção do vinho.

11.  Além dos huguenotes, se instalaram na Colônia Holandesa do Cabo, durante os séculos XVII e XVIII, protestantes oriundos da Holanda, da Alemanha, da Escócia e de outros países europeus.

I.5.  A COLONIZAÇÃO INGLESA

12.   Os ingleses ocuparam a Cidade do Cabo em 1795, durante a Guerra Anglo-Holandesa. Depois de breve período de domínio holandês entre 1803 e 1806, a cidade tornou-se capital da colônia britânica do Cabo.

13.   Durante o século XVIII, a indústria de vinho do Cabo floresceu e cresceu muito, em função das guerras napoleônicas que acarretaram o corte do fornecimento de vinhos franceses para a Inglaterra.

14.   Aliado ao efeito altamente positivo que Constantia havia trazido para a percepção de vinhos de outras regiões do Cabo, este período de colonização britânica propiciou que, para suprir a lacuna deixada pela ausência dos vinhos franceses, largas quantidades de vinho do Cabo fossem exportadas para a Inglaterra. No  ano de 1859, já eram exportados para aquele País mais de 4,5 milhões de litros de vinhos sul-africanos.

15.   Assim, a África do Sul experimentou um período de prosperidade que durou até 1860. Com o fim das guerras anglo-francesas, naquele ano foi assinado um tratado entre os dois países que reduziu as tarifas preferenciais que beneficiavam o vinho sul-africano, favorecendo, em consequência, as  exportações dos vinhos franceses. Em 1865, as exportações de vinhos sul-africanos para a Inglaterra cairam para menos de 1,5 milhões de litros, fazendo com que a vitivinicultura da África do Sul entrasse em declínio.

I.6.  A “PHYLLOXERA”

16.   Em 1866, a praga da “phylloxera”, que já havia causado grande devastação de vinhedos na Europa, alcançou a África do Sul, trazendo, da mesma  forma, imensos danos à indústria de vinhos e aos vinhedos, que levaram mais de 20 anos para se recuperar.

17.   Nessa fase, muitos viticultores desistiram de se voltar para a indústria do vinho, passando a cultivar outras espécies agrícolas. E a maior parte dos viticultores que decidiram replantar suas videiras escolheram variedades de alta produtividade, como a Cinsault, fazendo com que no início dos anos 1900 mais de 80 milhões de videiras tenham sido replantadas, o que gerou uma excessiva produção de vinho, de baixa qualidade.

I.7.  AS GUERRAS ANGLO-BOER

18.   A descoberta de diamantes, em 1867, e de ouro, em 1886, aumentou a riqueza dos bôeres (descendentes de colonos protestantes da Holanda, da França e da Alemanha), que habitavam as Regiões do Transvaal e do Estado Livre de Orange, não submetidas à Colônia Britânica sediada na Região do Cabo.

19.   O interesse britânico em se apoderar dessas riquezas encontrou resistência por parte dos bôeres, daí resultando, em 1880-1881, a 1a. Guerra  Anglo-Boer, vencida pelos bôeres.

20.   Mais a continuação do conflito de interesses, reforçado pelo aumento do número de colonos que continuavam chegando à África do Sul atraídos pelas suas riquezas, acabou por deflagrar a  2a. Guerra Anglo-Boer, entre 1899-1902, que foi vencida pelos britânicos e que culminou com a anexação das repúblicas bôeres do Transvaal e do Estado Livre de Orange à Colônia Britânica do Cabo.

21.   Dentre as amplas consequências internas trazidas para o País, essas guerras afetaram bastante a já, à época, combalida indústria de vinhos sul-africana, mergulhando-a quase no caos.

I.8.  A CRIAÇÃO DA UNIÃO SUL-AFRICANA. O “APARTHEID”

22.   Após 4 anos de negociação, a União Sul-Africana foi criada em 31 de Maio de 1910, incluindo a Colônia do Cabo, a Colônia de Natal, a Colônia do Rio Orange (ex-república boer do “Estado Livre de  Orange”) e o Transvaal, exatamente 8 anos depois do fim da 2a. Guerra Anglo-Boer, tendo sido mantido, todavia, o estatuto que garantia o domínio do Império Britânico sobre essa União. Esse foi o primeiro passo para a independência da África do Sul que, no entanto, só veio ocorrer 51 anos mais tarde.

23.   O sistema colonial era essencialmente racista e foi nesta fase que começaram a ser forjadas as bases legais para o regime do “apartheid”. Por exemplo, na própria constituição da União, que era considerada uma   república unitária, com um único governo, foi previsto que apenas na Região do Cabo os não-brancos que fossem proprietários tinham direito ao voto, porque os “estados-membros”, que passaram a ser considerados Províncias, mantiveram alguma autonomia.

24.   Como outros exemplos, podem ser citados:

a) a adoção, em 1911, do “Regulamento do Trabalho Nativo” (“The Native Labour Regulation Act”), segundo o qual era considerado um crime – apenas para os “africanos”, ou seja, os “não-brancos” – a quebra de um contrato de trabalho;

b) a promulgação, também em 1911, da “Lei da Igreja Reformista Holandesa” (“The Dutch Reformed Church Act”) que proibia os negros de se tornarem seus membros;

c) a edição, em 1913, da “Lei da Terra” (“Natives Land Act”) que dividiu a África do Sul em áreas onde só negros ou brancos podiam ter a posse de terra. Os negros, que constituíam dois terços da população, ficaram com direito a 7,5% da terra, enquanto os brancos, que eram apenas um quinto da população, ficaram com direito a 92,5%. Os mestiços (“coloured”) não tinham direito à posse de terra. Esta lei determinou, ainda, que os “africanos” só poderiam viver fora de suas terras quando fossem empregados dos brancos e passou a considerar ilegal a prática usual de ter rendeiros negros nas plantações.

25.   A palavra “apartheid” (“separação” em africâner, uma dos idiomas oficiais da África do Sul) foi registrada pela primeira vez num discurso proferido em 1917 por Jan Smuts, que se tornou  Primeiro-Ministro da África do Sul em 1919. É uma expressão que acabou sendo adotada legalmente em 1948 naquele País para designar um regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os não-brancos eram obrigados a viver deles separados, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos.

26.   A partir de 1948, o regime do “apartheid” gradativamente se aprofundou, criando uma vasta gama de discriminações e restrições para os não-brancos, que culminaram por gerar uma “política de segregação racial” de enorme abrangência, que negava ou impedia o exercício dos mais básicos direitos de cidadania para as classes excluídas.

27.   Esse regime foi abolido em 1990, no governo de Frederik de Klerk, que foi Presidente da África do Sul no período de Setembro/1989 a Maio/1994, ano em que foram realizadas as primeiras eleições livres no País.

28.   Durante a era do “apartheid”, as sanções comerciais impostas por vários países à importação de produtos da África do Sul mantiveram os seus vinhos fora dos principais mercados, com graves consequências para os produtores sul-africanos, que ficaram com pouco incentivo para produzir vinhos que fossem competitivos internacionalmente e passaram a ter limitado acesso aos novos desenvolvimentos no mundo do vinho.

29.   De fato, ao longo da vigência desse regime,  a maioria dos viticultores vendia suas colheitas para cooperativas, que as transformavam em conhaque, vinhos tipo “porto” de baixa qualidade ou outras bebidas alcoólicas. E, com o fim do “apartheid”, a África do Sul, que havia ficado com suas exportações reprimidas por muito tempo, inundou o mercado internacional com vinhos baratos e medíocres.

I.9.   A “KWV-KOOPERATIEVE WIJNBOUWERS VERENIGING VAN ZUID-AFRIKA BKPT”

30.    Como consequência do excessivo número de videiras que foram replantadas até o início dos anos 1900, em substituição às que haviam sido dizimadas pela “phylloxera”, a produção de vinhos na África do Sul se tornou excessiva, fazendo até com que alguns vinicultores despejassem em rios parcelas de suas produções que não eram absorvíveis pelo mercado.

31.    A depressão de preços causada pelo desequilíbrio entre a oferta e a demanda impeliu o Governo Sul-africano a financiar, em 1918, a formação da KWV, cooperativa que, com pouco tempo de funcionamento, cresceu em poder e notoriedade e passou, de fato, a estabelecer as políticas e os preços para a indústria de vinho em toda a África do Sul, especialmente visando ao controle dos níveis de produção e das demandas do mercado.

32.    A KWV, na prática, dominou a indústria de vinho sul-africana até o fim do “apartheid”. Em 1990, as quotas de produção, que a KWV estabeleceu por muito tempo, foram abolidas e essa cooperativa foi reformulada, funcionando atualmente como uma organização de marketing em nome dos seus quase 5.000 acionistas (viticultores e vinicultores sul-africanos).

I.10.  A NOVA ERA

33.    Durante os anos do “apartheid”, o comércio da África do Sul com o exterior diminuiu bastante em decorrência das sanções internacionais e a sua indústria de vinho se voltou para dentro do País.

34.    Com o advento da democracia em 1994, essa indústria, que tinha ficado maciçamente nas mãos de proprietários e produtores brancos, foi forçada a se adaptar a uma nova realidade.

35.    A KWV teve a sua atuação profundamente reformulada em 1997 e, juntamente com outros participantes do mercado vitivinícola, formou a “South  African Industry Trust”, em 1999, para promover a transformação da indústria de vinho sul-africana.

36.    A maioria dos produtores ainda é de brancos, mas nos anos mais recentes já foram constatadas participações de não-brancos na indústria de vinho da África do Sul.

37.    Em 2001, foi lançado um projeto de caráter participativo, o “Vineyard Academy”, para prover treinamento aos trabalhadores da área vitícola em diversos assuntos inerentes a sua atividade.

38.    Embora o consumo de vinho na África do Sul não tenha crescido por muitos anos, existem sinais positivos de que os maiores produtores estão com sua atenção também voltada para o potencial do mercado interno.

39.    E, com o fim do “apartheid”, desde 1994 o vinho sul-africano retornou à arena internacional com significativo impacto, crescendo de 50 milhões de litros exportados naquele ano para 139 milhões de litros exportados já em 2000, com 25% dessas exportações sendo constituídos de vinhos de boa qualidade.

II. CARACTERÍSTICAS GEO-CLIMÁTICAS

II.1.   O “WINE OF ORIGINS (WO)” PROGRAM

40.    Editado em 1973, o “Wine of Origins (WO)” Program estabelece como as regiões vinícolas da África do Sul são definidas e como devem ser citadas nos rótulos dos vinhos.

41.    Mantendo alguma similaridade com o sistema francês “Appellation d’Origine Controlée (AOC)”, todo vinho sul-africano que cite no rótulo uma “Wine of Origin (WO)” deve ser composto inteiramente de uvas produzidas na WO citada.

42.    Mas, a par dessa similaridade, o programa se preocupa principalmente com a fidedignidade da rotulação dos vinhos e não dispõe sobre quaisquer regulamentações adicionais sobre regiões vinícolas, tais como variedades de castas permitidas, métodos de plantio, irrigação e níveis de produção de safras.

43.    Cada região vinícola integrante do programa WO é classificada em uma das 4 seguintes categorias:

a) Unidades Geográficas (exemplo: Região “Western Cape”);

b) Regiões (exemplo: Coastal Region);

c) Distritos (exemplo: Stellenbosch);

d) Wards (exemplo: Constantia).

44.    Enquanto as Unidades Geográficas, as Regiões e os Distritos são definidos em função das suas delimitações geopolíticas, um “ward” é uma área com tipo de solo e/ou clima distintos e, a grosso modo, equivale a uma “appellation” européia (“terroir”). Existem 84 regiões vinícolas (“appellations”) definidas atualmente no programa WO.

II.2.  AS REGIÕES VINÍCOLAS

45.    A África do Sul está situada na extremidade do continente africano e a maior parte de suas regiões vinícolas está localizada nas áreas sob influência climática dos oceanos Atlântico e Índico.

46.    Todas as regiões vinícolas estão espalhadas ao longo das regiões geográficas de “Western Cape” e “Northern Cape”, exceto uma que corresponde à toda a região geográfica de “KwaZulu-Natal”.

47.    Segundo o programa WO existem, hoje, 3 “Unidades Geográficas” (Western Cape, KwaZulu-Natal e Eastern Cape), 9 “Regiões”, 17 “Distritos” e 55 “Wards”.

48.    As 9 “Regiões” são:

  1.          Boberg (denominação usada exclusivamente para os vinhos fortificados produzidos nos “Distritos” de Paarl e Tulbagh, que fazem parte da “Região” Coastal Region);
  2.         Breede River Valley (integrada por 4 “Distritos” e 17 “Wards”);
  3.          Cederberg (ainda não tem “Distritos” ou “Wards” definidos);
  4.          Coastal Region (integrada por 7 “Distritos” e 18 “Wards”);
  5.          Klein Karoo (integrada por 1 “Distrito” e 4 “Wards”);
  6.          Northern Cape (integrada por 1 “Distrito” e 3 “Wards”);
  7.          Olifants River (integrada por 3 “Distritos” e 5 “Wards”);
  8.          Overberg (integrada por 1 “Distrito” e 3 “Wards”); e
  9.          Piketberg (ainda não tem “Distritos” ou “Wards” definidos).

49.    Os 17 “Distritos” estão localizados nas “Regiões” da seguinte forma:

  1.           na “Região” Breede River Valley: “Distritos” de Breedekloof, Robertson, Swellendam e  Worcester;
  2.          na “Região” Coastal Region: “Distritos” de Cape Point, Darling, Paarl, Stellenbosch, Swartland,  Tulbagh e Tygerberg;
  3.          na “Região” Klein Karoo: “Distrito” de Calitzdorp;
  4.          na “Região” Northern Cape: “Distrito” de Douglas;
  5.          na “Região” Olifants River: “Distritos” de Citrusdal Mountain, Citrusdal Valley e Lutzville  Valley; e
  6.          na “Região” Overberg: “Distrito” de Walker Bay.

50.    Do total de 55 “Wards”, 50 estão localizados nas “Regiões” ou nos “Distritos” e 5, denominados “Isolated Wards”, estão localizados fora das áreas geográficas abrangidas pelas duas categorias de WO citadas.

51.    Os seguintes “Distritos” merecem destaque:

. STELLENBOSCH – é a segunda WO mais antiga (a primeira é Constantia), responsável por cerca  de 14% da produção anual de vinho do País, e sedia a maior parte dos produtores mais conceituados.   É considerada a região que fabrica os melhores vinhos da África do Sul, com destaque para os tintos, especialmente no que diz respeito aos “blends”. Reúne mais de 80 vinícolas, cujos vinhos se  situam entre os mais caros produzidos no País, com preços, todavia, justificados pela sua qualidade.

. PAARL – na maior parte do século XX, Paarl foi para todos os propósitos práticos o coração da

indústria de vinho sul-africano. Sediava a cooperativa KWV e realizava anualmente o leilão “Nederburg

Wine Auction”, no qual a reputação das safras ou dos produtores era altamente avaliada.

Gradualmente, o foco se deslocou para Stellenbosch, onde a sua universidade exerceu proeminente

papel para a indústria do vinho, com seus programas de viticultura e vinicultura. Da mesma forma que

Stellenbosch, tem, por séculos, fabricado vinhos e sedia importantes produtores.

52.    Entre os “Wards”, cabem ser destacados Constantia (do “Distrito” de Cape Point), Franschhoek Valley (do “Distrito” de Paarl), Banghoek, Bottelary, Devon Valley, Jonkershoek Valley, Papegaaiberg, Polkadraai Hills e Simonsberg-Stellenbosch (todos do “Distrito” de Stellenbosch), Bonnievale (do “Distrito”de Robertson), Groenekloof (do “Distrito” de Darling) e Elgin (da “Região” de Overberg).

II.3.   CLIMA

53.    A maioria das regiões vinícolas sul-africanas tem um clima “mediterrâneo”, marcado por intenso nível de luz solar e de calor seco. Em geral, o clima é temperado com verões agradáveis e invernos frios, com chuvas entre maio e agosto.

54.    A corrente de Benguela que vem da Região Antártica traz ar frio para a costa sul do País, o que faz com que, nessa região, a sensação térmica seja inferior à de outras regiões de mesma latitude. Além disso, uma forte corrente de vento, conhecida como “Cape Doctor”, traz fortes ventos para  as regiões ao longo do Cabo, constituindo fator positivo na limitação do risco da absorção de vários fungos pelas videiras.

55.    Na escala “Winkler”, as regiões vinícolas da África do Sul podem, na maioria, ser classificadas como localidades da “Região III”, com níveis de calor e de variação diária de temperatura similares à da região vinícola de Oakville, em Napa Valley, Califórnia.

56.    A África do Sul, com a viticultura instalada em áreas que vão das regiões costeiras até as no quase deserto, tem uma variedade de meso-climas e “terroirs” que geram diferentes vocações em termos de variedades de castas utilizadas e de vinhos produzidos.

III.    VITICULTURA

III.1.   HISTÓRICO

57.    Ao longo das várias fases de colonização, a viticultura sul-africana adotou, basicamente, os princípios e as técnicas que haviam sido trazidos pelos colonizadores europeus, o que lhe assegurou manter, em nível satisfatório, os padrões de produção que eram obtidos na Europa.

58.    Após a devastação causada pela “phylloxera”, o foco da viticultura na África do Sul voltou-se mais  para a quantidade do que para a qualidade. Vinhedos foram plantados com castas de alta produtividade, com bastante espaço entre as videiras para facilitar a utilização da colheita mecanizada.

59.    Mas, no final do século XX, muitos produtores começaram a alterar esse foco para priorizar a fabricação de vinho de qualidade e passaram a adotar técnicas de viticultura mais modernas.

III.2.  AS CASTAS

60.    Na África do Sul, a palavra usada para traduzir “casta” é “cultivar” e muitas variedades de uvas, internacionalmente conhecidas, possuem  nomenclatura local diferente. Como exemplos, podem ser citadas as castas Chenin Blanc (localmente conhecida como Steen), Riesling (localmente é denominada Weisser Riesling), Sémillon (conhecida localmente como Groendruif), Trebbiano (lá conhecida como Ugni Blanc), Muscat (conhecida localmente como Hanepoot). Contudo, os vinhos sul-africanos que são exportados utilizam em seus rótulos, de modo geral, a nomenclatura de castas internacionalmente adotada.

61.    Chenin Blanc é, há longo tempo, a casta mais produzida na África do Sul, tendo, em 2004, alcançado, no mínimo, o volume de 1/5 de todas as variedades plantadas no País. Mas, essa proporção vem se reduzindo em favor do plantio de outras castas. Além da Chenin Blanc, são produzidas no País em quantidades significativas as castas brancas Colombard, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Muscat.

62.    Quanto às castas tintas, o plantio tem, desde 1990, crescido constantemente. Até aquele ano, menos de 18% de todas as uvas produzidas eram tintas; em 2003, esta proporção já havia crescido para 40% e essa tendência de crescimento se manteve.

63.    Na maior parte do século passado, a casta Cinsault, de alta produtividade, foi a uva tinta mais largamente produzida na África do Sul, mas a mudança de foco para priorizar a qualidade na produção de vinho fez com que o plantio dessa variedade fosse profundamente reduzido, de tal modo que em 2004 já representava menos de 3% de todos os vinhedos.

64.    Em substituição à Cinsault, a Cabernet Sauvignon, a Shiraz, a Merlot e a Pinotage se tornaram proeminentes, com a Cabernet Sauvignon passando a ser a casta tinta mais amplamente produzida, cobrindo, já em 2006, 13% de toda a área plantada. Entre outras castas tintas plantada na África do Sul, podem ser citadas a Carignan, a Gamay, a Grenache, a Tinta Barroca e a Zinfandel.

65.    Além disso, existe uma vasta variedade de castas menos conhecidas que são usadas para alimentar a robusta indústria sul-africana de destilados e de vinhos fortificados. Essas castas usualmente produzem vinhos suaves e neutros, que se prestam bem para serem usados em “blends” ou para destilação, e raramente serão encontradas em rótulos de vinhos varietais.

66.    Atualmente, as castas mais plantadas na África do Sul representam os seguintes percentuais de participação nos seus vinhedos:

. Chenin Blanc ………………….. 18,7%;
. Cabernet Sauvignon ………. 13,1%;
. Colombard …………………….. 11,4%;
. Shiraz …………………………….  9,6%;
. Sauvignon Blanc ……………..  8,2%;
. Chardonnay ……………………. 8,0%;
. Merlot …………………………….  6,7%;
. Pinotage …………………………   6,2%.

III.3.  A UVA PINOTAGE

67.    Na história da viticultura sul-africana, merece especial menção a uva Pinotage, que é uma casta criada na África do Sul em 1925, pelo Professor Abraham Izak Perold, primeiro docente de viticultura da “Stellenbosch University”, a partir do cruzamento da uva Pinot Noir com a uva Cinsault (conhecida na África do Sul como Hermitage), e que se revelou uma variedade bem apropriada para as características geoclimáticas do País. A intenção foi combinar as melhores qualidades da robusta e resistente Cinsault com a Pinot Noir, uva da qual se faz bons vinhos, mas que pode ser difícil de cultivar.

68.    O primeiro vinho da uva Pinotage foi feito em 1941. O primeiro reconhecimento público veio quando um vinho denominado “Bellevue” tornou-se o vinho campeão no “Cape Wine Show” de 1959. Este vinho foi, posteriormente em 1961, o primeiro a mencionar em seu rótulo a expressão “Pinotage”. Este sucesso, e a sua fácil viticultura, induziram uma onda de plantio da Pinotage durante os anos 1960.

69.    A despeito da reputação de fácil cultivo, a uva Pinotage tem sofrido críticas. Uma reclamação comum é a tendência a desenvolver, durante a vinificação, o “acetato de isoamyl” (composto orgânico que é um éter formado do álcool isoamyl e do ácido acético), que tem um forte odor similar ao da banana e da pera, em conjunto, e que conduz a um “picante doce”, que frequentemente lembra o aroma de uma “camada de pintura”. Um grupo de “British Masters Wine”, que visitou a África do Sul em 1976, teve uma impressão desfavorável sobre a Pinotage, classificando seu nariz como “quente e horrível” e comparando o gosto a cravos rústicos e embolorados. Mas, já decorreu bastante tempo desde essa avaliação e a evolução das técnicas de vinificação certamente propiciam hoje aos produtores condições de anular ou, no mínimo, reduzir bastante essas imperfeições da Pinotage.

70.    O volume plantado de Pinotage tem subido ou caído em função da permanente intenção e necessidade da indústria de vinhos sul-africana de se ajustar às preferências do mercado, especialmente o mercado externo. Mais de 20% dos vinhos tintos produzidos na África do Sul já foram de Pinotage; hoje, essa proporção é muito menor.

71.    No início dos anos 1990, com o fim do “apartheid” e a reabertura dos mercados internacionais, produtores da África do Sul ignoraram a  Pinotage em favor das variedades mais reconhecidas internacionalmente, tais como a Cabernet Sauvignon e a Shiraz. No fim do século, a reputação da Pinotage começou a mudar e em 1997 os vinhos sul-africanos feitos com ela chegaram a obter no mercado preços mais altos do que qualquer outro vinho varietal feito na África do Sul.

72.    Enquanto que há incentivadores que defendem que a Pinotage seja transformada na “variedade de assinatura” da África do Sul, de outro lado há os críticos dessa casta que registram que, possivelmente devido a algumas de suas características (tais como, tendência a desenvolver sabores vegetais e aroma de   banana), esta uva ainda não se consolidou no exterior e, fora da África do Sul, é plantada, em pequenas proporções, por exemplo, nos Estados Unidos, na Nova Zelândia, no Canadá, no Brasil, em Israel e no Zimbabwe. Parte dos produtores sul-africanos desdenham dos vinhos Pinotage pelo fato de que eles são, claramente, inconfundivelmente, um “vinho do Novo Mundo”, enquanto que a tendência do vinho sul-africano é refletir mais as influências e sabores europeus. Dizem que, apesar de ser um cruzamento de castas da Borgonha e do Reno, a Pinotage não reflete fidedignamente os sabores do vinho francês.

73.    Mas, de toda forma, a qualidade de vinhos Pinotage produzidos na África do Sul vem melhorando e esta casta tem presença marcante nos apreciados tintos conhecidos como “Cape blends”. E, assim, hoje parcela significativa da opinião pública interessada no mercado de vinho já considera a Pinotage a “uva emblemática” da África do Sul.

III.4.  A ÁREA OCUPADA POR VINHEDOS

74.    Na era pós-apartheid, iniciada em 1994, o vinho da África do Sul retornou à arena mundial com significativo impacto. Mas, internacionalmente, a indústria de vinho sul-africana ainda pode ser considerada pequena, se comparada à dos maiores países produtores, e ocupa a 15ª. posição no ranking global dos países em termos de área total ocupada por vinhedos.

75.    No ano 2000, a área ocupada por vinhedos na África do Sul era de aproximadamente 111.700 hectares; em 2009, essa área já era de  aproximadamente 132.500 hectares, com um crescimento de quase 19% em relação ao ano de 2000, passando o País a ter 1,8% da área global ocupada por vinhedos no mundo. Para se ter uma noção da posição relativa da África do Sul em relação aos países maiores produtores, pode-se registrar que a sua área de vinhedos corresponde a 11,9% da área plantada na Espanha, 16,5% na França, 19,0% na Itália e 34,4% nos Estados Unidos.

76.    Na África do Sul, as castas brancas ainda ocupam um pouco mais de 50% da área plantada, mas já houve um grande avanço no sentido de corrigir o desequilíbrio existente no ano de 1990, quando 85% da área era ocupada por uvas brancas e 15% por tintas. Em 2000, mais de 80% dos novos plantios foram de uvas tintas, predominantemente a Cabernet Sauvignon, a Shiraz e a Merlot. Ao mesmo tempo, 87% de todas  as videiras arrancadas foram brancas, principalmente das castas Chenin Blanc, Palomino e Colombard.

IV.    VINICULTURA

IV.1.  HISTÓRICO

77.    O vinho sul-africano guarda a tradição de sabores e estilos dos vinhos do Velho Mundo adquirida durante os períodos de colonização, especialmente quanto às influências francesas, italianas e alemãs, e, por     outro lado, tem absorvido as experiências de vinificação do Novo Mundo, principalmente da Austrália e dos Estados Unidos. Em suma, os 350 anos da vinicultura da África do Sul refletem ao mesmo tempo o classicismo e a tradição do Velho Mundo e as influências do estilo contemporâneo do Novo Mundo.

78.    Emergindo das sombras do “apartheid”, a África do Sul vem, progressivamente, fazendo vinhos melhores e a bons preços para todos os níveis de escala de qualidade.

IV.2.  O “VINE IMPROVEMENT PROGRAM (VIP)”

79.    Com o fim do “apartheid” e a reabertura dos mercados internacionais, a indústria de vinho da África do Sul necessitou de um substancial aprendizado para ultrapassar a defasagem em que se encontrava e se recolocar no mercado mundial de vinho.

80.    Nesse sentido, foi estabelecido o “VINE IMPROVEMENT PROGRAM (VIP)” para trazer, para a indústria de vinho, moderna compreensão da viticultura. A primeira fase do programa foi lançada no final do século passado e objetivou proteger os vinhedos contra pragas e manter adequado nível de produtividade para videiras. A segunda fase, que ainda está em curso, está voltada para a promoção da adequada harmonização das combinações de variedades de uvas, clones e videiras com os adequados “terroirs”, a fim de garantir a produção de vinhos de qualidade.

IV.3.  A INDÚSTRIA DO VINHO

81.    A maioria do vinho produzido na África do Sul é originária da Província do Cabo. O coração histórico do vinho sul-africano tem sido a área próxima da Península do Cabo, local proeminente na indústria, onde se localizam as importantes regiões vinícolas de Constantia, Stellenbosch e Paarl. Hoje, a maior parte do vinho é produzida em Western Cape e em algumas regiões do Northern Cape. As regiões vinícolas em  Breede Valley, Olifants River e Orange River são locais mais quentes e estão voltadas para a produção de vinhos de volume e de destilados. As regiões de clima mais frio a leste da Cidade do Cabo e ao longo da costa do Oceano Índico, tais como Walker Bay e Elgin, têm mostrado expansão e desenvolvimento nos anos recentes na utilização de variedades de castas que se adaptam a esse tipo de clima.

82.    Na maior parte do século XX, a indústria de vinho da África do Sul recebeu muito pouca atenção no cenário mundial. Seu isolamento foi, ademais, aprofundado pelo boicote dos produtos sul-africanos em protesto ao regime do “apartheid”. E somente a partir do fim desse regime, após 1990, e a consequente reabertura dos mercados internacionais, foi que os vinhos da África do Sul começaram a experimentar um renascimento.

83.    Então, com uma elevada carga de aprendizado novo, muitos produtores sul-africanos rapidamente adotaram novas tecnologias de viticultura e de vinicultura. Além disso, enólogos estrangeiros, conhecidos como “flying winemakers”, da França, Espanha e Califórnia têm trazido para o País novas técnicas e novos estilos.
84.    No fim dos anos 1980, o uso de barrris de carvalho para fermentação e envelhecimento tornou-se popular. O uso da chapitalização é proibido no País, pois o seu clima temperado assegura o alcance dos desejáveis níveis de açúcar e de álcool na produção de vinhos. Alguns produtores têm problemas com baixos níveis de acidez no vinho, o que requer alguma suplementação com a adição de ácidos, tal como o ácido tartárico.

85.    Em 1990, menos de 30% de todas as uvas colhidas eram usados na produção de vinhos, sendo os remanescentes 70% descartados, destilados ou vendidos como uvas de mesa ou para a fabricação de suco. Em 2003, essa situação havia se invertido, com 70% de todas as uvas colhidas chegando ao mercado consumidor como vinho.

86.    Tradicionalmente, os vinhos tintos sul-africanos tinham a reputação de  serem ásperos na textura e terem aromas rústicos. A palavra africana usada para descrever esses vinhos significa literalmente “pé pesado, compacto”. Hoje, o foco da indústria de vinho na África do Sul está voltado para o aumento da  qualidade na produção de vinho, particularmente com uso de variedades de uvas tintas mais em moda e mais exportáveis. Nos vinhedos, viticultores passaram a focar no controle de produtividade e no adequado tempo de amadurecimento, enquanto os vinicultores passaram a adotar modernas técnicas para criar vinhos mais delicados e consistentes. Controle de temperatura de fermentação e fermentação malolática controlada têm sido mais amplamente adotados, bem como menos dependência da filtração como um meio de estabilização.

87.    Por outro lado, a reorganização da cooperativa KWV, transformando-a numa instituição privada, estimulou a inovação e o aprimoramento da qualidade entre os proprietários de vinhedos e as vinícolas, os quais anteriormente contavam com o sistema de preços fixados que assegurava a compra, para a destilação, dos excessos de uvas produzidas. Esta reorganização gerou a mudança de foco para a produção de vinho de qualidade, a fim de preservar a capacidade de competir no mercado.

88.    Na realidade, uma nova geração de produtores de vinho tem se beneficiado do maior contato com o mundo exterior e os produtores sul-africanos em geral agora sabem que eles podem competir na arena internacional. Hoje, a África do Sul é o 9º. maior produtor de vinhos, fabricando desde frescos, vibrantes Sauvignon Blancs e Chenin Blancs a estruturados, sérios Cabernet Sauvignons, Syrahs e tintos “blend”. Os melhores exemplares são, na verdade, vinhos que provocam alto grau de satisfação, mesclando os estilos do Velho e do Novo Mundo.

IV.4.  VINHOS FORTIFICADOS. VINHOS DE SOBREMESA. ESPUMANTES

89.    A indústria de vinhos da África do Sul tem um longo histórico de produção de vinhos fortificados, conhecidos popularmente como “Cape port” (embora o termo “port” esteja protegido pela União Européia para se referir somente aos vinhos da Região do Douro, em Portugal). Esses  vinhos são feitos de uma variedade de uvas, tais como Shiraz e Pinotage, bem como de uma variedade de uvas portuguesas, como Tinta Barroca, Touriga Nacional, Souzão e Fernando Pires. O nível mínimo de álcool para esses vinhos deve se situar entre 16,5 e 22%.

90.    Os vários estilos de “Cape port” mantêm uma certa similaridade com os vinhos do Porto portugueses e incluem:

a) “Cape White port”, que pode ser feito de quaisquer variedades de uvas brancas (tais como Chenin Blanc, Colombard ou Fernão Pires), exceto a uva Muscat. É requerido que este vinho seja envelhecido em barris  de madeira por pelo menos 6 meses;

b) “Cape Ruby port”, que usualmente é um “blend” de várias uvas, bem encorpado, sendo que cada vinho de sua composição deve envelhecer em barris de madeira por pelo menos 6 meses e o “blend” por pelo menos 1 ano;

c) “Cape Tawny port”, que é um “blend” que deve envelhecer em barris de madeira o tempo suficiente para adquirir a cor “tawny” (amarelo tostado) e o sabor leve de nozes. É proibido misturar “Cape White” e “Cape Ruby” ports para produzir o “Cape Tawny port”;

d) “Cape Late Bottled Vintage (LBV) port”, que é feito de uvas colhidas em uma única safra, envelhecido por pelo menos 2 anos em  barris de carvalho e passa por um envelhecimento total de 3 a 6 anos antes de ser engarrafado. A legislação sul-africana de vinhos determina que o termo “Late Bottled Vintage” ou  “LBV” conste do rótulo deste vinho, acompanhado da safra e do ano de engarrafamento;

e) “Cape Vintage port”, que é feito de uvas colhidas em uma única safra, envelhecido em barris de madeira e deve ter a expressão “Vintage port” e a safra explicitados no rótulo; e

f) “Cape Vintage Reserve port”, que somente é produzido em safras consideradas de excepcional qualidade pela indústria sul-africana de vinhos e/ou por publicações especializadas. Este vinho deve ser envelhecido por pelo menos 1 ano em barris de carvalho e vendido exclusivamente em garrafas de vidro, além de obrigatoriamente ter a expressão “Vintage Reserve port” e a safra explicitadas no rótulo.

91.    Além dos denominados “Cape ports”, a África do Sul produz vinhos estilo “sherry” (xerez) e um vinho de licor feito de uva Muscat, conhecido como “Jerepigo” (ou “Jerepiko”), em cuja elaboração é adicionado conhaque ao mosto antes da fermentação, com o objetivo de lhe proporcionar um teor residual de açúcar de pelo menos 160 gramas por litro.

92.    Também têm uma longa história os vinhos de sobremesa sul-africanos. Além dos tradicionais e famosos vinhos de Constantia, essa espécie inclui, hoje, os modernos vinhos “Edel Laat-oes”, de uvas infectadas por “podridão nobre” (conhecida localmente como “Edelkeur”) e contendo pelo menos 50 gramas de açúcar residual por litro. Os vinhos rotulados sob a denominação “Laat-oes” são feitos de uvas de colheita tardia, mas não infectadas por “botrytis”. Estes vinhos devem ter um teor alcoólico mínimo de 10% e um nível residual de açúcar entre 10 e 30 gramas por litro. Vinhos com teor residual de açúcar acima de 30 gramas por litro são denominados “Spesiale Laat-oes” ou “Special Late Harvest”, o que pode indicar que na sua elaboração foram usadas algumas uvas com “botrytis”.

93.     Na África do Sul, vinhos espumantes são produzidos tanto com uso do método “Charmat”, como do método “Champenoise”. Para distinguir os espumantes sul-africanos (e para observar as regras de proteção da  União Européia para os termos “Champagne” e “Champenoise”), os que são feitos com uso do método “Champenoise” são rotulados como “Cape Classique”. Estes vinhos eram tradicionalmente feitos com as uvas  Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, mas há poucos anos a maioria passou a ser produzida com as difundidas castas Chardonnay e Pinot Noir. São fabricados também espumantes tintos a partir da uva Pinotage.

IV.5.  A ROTULAÇÃO DOS VINHOS

94.    A lei sul-africana que dispõe sobre rotulação de vinhos observa estritamente as classificações oficiais das regiões vinícolas definidas no programa “Wine of Origins (WO)”. Vinhos que somente utilizem uvas de um determinado vinhedo podem citar o nome deste vinhedo em seu  rótulo, desde que o vinhedo esteja registrado pelo governo. Vinícolas podem ainda rotular vinhos como “Estate Wines”, desde que todas as uvas usadas em sua fabricação, a vinificação e o engarrafamento tenham como origem a mesma propriedade.

95.    Além disso, o “The South African Wine & Spirit Board” opera um programa de adesão voluntária que permite aos vinhos sul-africanos serem certificados quanto à qualidade e exatidão dos seus rótulos. Sob este  processo de certificação, um vinho de uma determinada safra deve ser composto por pelo menos 85% de uvas colhidas na safra citada no rótulo. Vinhos varietais devem ser compostos por pelo menos 85% da variedade de uva mencionada. “Blends”, como por exemplo um de Cabernet Sauvignon e Pinotage, podem ter ambas as castas citadas no rótulo, desde que os dois vinhos tenham sido vinificados separadamente. Um vinho que tenha sido co-fermentado, com as castas prensadas e vinificadas juntamente, como por exemplo um Shiraz-Viognier, não pode citar as variedades de uvas no rótulo. Em 2006, 35% das vinícolas sul-africanas já participavam deste programa.

IV.6. A PRODUÇÃO VINÍCOLA

96.    Em 2009, a produção de vinhos na África do Sul foi de 780,7 milhões de litros, 17,4 milhões de litros a mais do que no ano anterior. Segundo as estatísticas daquele ano, o País ocupava a posição de 9º. maior produtor do mundo. O volume produzido pela África do Sul correspondeu a 2,92% de toda a produção mundial. Para se ter uma idéia da posição relativa da África do Sul em relação aos países maiores produtores, cabe registrar que a sua produção de vinhos equivaleu, no ano de 2009, a aproximadamente 16,6% da produção da França (4,70 bilhões de litros), 16,8% da Itália (4,65 bilhões de litros), 20,5% da Espanha (3,80 bilhões de litros), 28,1% dos Estados Unidos (2,78 bilhões de litros), 64,5% da Argentina (1,21 bilhões de litros), 66,7% da Austrália (1,17 bilhões de litros), 79,1% do Chile (987 milhões de litros), 84,1% da Alemanha (928 milhões de litros) e 130,1% de Portugal (600 milhões de litros). De 2006 a 2009, a África do Sul, dando seguimento à política de privilegiar a qualidade em detrimento da quantidade, reduziu a sua produção em 16,93% (de 939,8 milhões para 780,7 milhões de litros), caindo do 7º. para o 9º. lugar entre os produtores mundiais de vinho.

97.    Segundo estatísticas relativas ao ano de 2006, a África do Sul exportou 272 milhões de litros de vinho (correspondentes a 3,25% do volume físico exportado por todos os países produtores), colocando-se como o 10º. maior país exportador em termos de volume físico e como o 9º. maior país exportador em termos de valores exportados em dólares (com um montante equivalente a 2,4% do valor total exportado pelos países produtores).

98.    Para se ter uma noção de sua posição em relação aos demais países, cabe registrar que o volume físico exportado pela África do Sul em 2006 correspondeu a aproximadamente 15,2% do volume exportado pela Itália (1,79 bilhões de litros), 18,6% pela França (1,46 bilhões de litros), 20,3% pela Espanha (1,34 bilhões de litros), 35,7% pela Austrália (762 milhões de litros), 57,6% pelo Chile (472 milhões de litros), 73,7% pelos Estados Unidos (369 milhões de litros), 86,1% pela Alemanha (316 milhões de litros), 90,1% pela Argentina (302 milhões de litros) e 95,1% por Portugal (286 milhões de litros).

99.    Quanto ao valor exportado em 2006, a posição relativa da África do Sul correspondeu a aproximadamente 6,9% do valor exportado pela França, 13,3% pela Itália, 25,8% pela Austrália, 27,6% pela Espanha, 55,8% pelo Chile, 66,7% pelos Estados Unidos, 68,6% pela Alemanha e 80% por Portugal.

100.   No tocante ao consumo interno de vinhos, registrado no ano de 2009, a África do Sul se situou no 13º. lugar no ranking, com um consumo de 341,9 milhões de litros (equivalente a 1,48% do consumo mundial), correspondentes a 11,7% do consumo na França (2,91 bilhões de litros), 12,4% nos Estados Unidos (2,75 bilhões de litros), 13,96% na Itália (2,45 bilhões de litros), 16,99% na Alemanha (2,01 bilhões de litros), 22,2% na China (1,54 bilhões de litros), 27% no Reino Unido (1,27 bilhões de litros), 29,86% na Rússia (1,15 bilhões de litros), 30,3% na Espanha (1,13 bilhões de litros), 33,2% na Argentina (1,03 bilhões de litros), 67,1% na Romênia (509,7 milhões de litros), 69,33% na Austrália (493,1 milhões de litros), 75,14% em Portugal (455 milhões de litros) e 106,8% no Brasil (320 milhões de litros).

101.  Quanto ao consumo médio per capita, a África do Sul ocupa o 64º. lugar no ranking, com um índice de 6,97 litros/ano por habitante, registrado no ano de 2009, correspondente a 15,41% do consumo na França (45,23 litros/ano por habitante), 16,40% em Portugal (42,49 litros/ano por habitante), 16,54% na Itália (42,15 litros/ano por habitante), 25,06% na Espanha (27,81 litros/ano por habitante), 27,70% na  Argentina (25,16 litros/ano por habitante), 28,52% na Alemanha (24,44 litros/ano por habitante), 30,06% na Austrália  (23,19 litros/ano por habitante), 33,64% no Reino Unido (20,72 litros/ano por habitante), 34,15% na Nova  Zelândia (20,41 litros/ano por habitante), 50,32% no Chile (13,85 litros/ano por habitante), 77,79% nos Estados Unidos (8,96 litros/ano por habitante) e 432,92% no Brasil (1,61 litros/ano por habitante).

V.     VINÍCOLAS SUL-AFRICANAS

102.  Somente a Região do Cabo conta com aproximadamente 4.500 produtores (viticultores) e 340 vinícolas. Em todo o País, estima-se que existam cerca de 500 vinícolas.

103.  Uma pesquisa realizada em 2009 pela revista “South Africa Independent Grape”, no âmbito de escritores sobre vinho, de críticos do assunto e de avaliadores de vinhos, apresentou como resultado uma relação das melhores vinícolas e dos melhores produtores de vinho sul-africanos. As 21 melhores vinícolas, em ordem de classificação, foram as seguintes:

1. Kanonkop Estate (de Stellenbosch);
2. Vergelegen (de Stellenbosch);
3. Neil Ellis Wine (de Stellenbosch);
4. Hamilton-Russell Vineyards (de Overberg);
5. Rustenberg Wines (de Stellenbosch);
6. Glen Carlou Vineyards (de Paarl);
7. Thelema Mountain Vineyards (de Stellenbosch);
8. Jordan Vineyards (de Stellenbosch);
9. Veenwouden Private Cellar (de Paarl);
10. Klein Constantia Estate (de Constantia);
11. Grangehurst Winery (de Stellenbosch);
12. Boekenhoutskloof (de Stellenbosch);
13. Villiera Wines (de Paarl);
14. Saxenburg (de Stellenbosch);
15. Spice Route Wine Company (de Swartland);
16. Bouchard Finlayson (de Walker Bay);
17. De Trafford Wines (de Stellenbosch);
18. Buitenverwachting Estate (de Constantia);
19. Fairview (de Paarl);
20. Graham Beck Wines (de Robertson); e
21. Springfield Estate (de Robertson).

104.  Além dessas, algumas vinícolas sul-africanas construíram, ao longo dos anos, destacada reputação, sendo bem nominadas em  publicações e avaliadores especializados, como “Wine Spectator”, Robert Parker, “Wine Enthusiast”, “Decanter”, “Wine” e a publicação anual sul-africana “The John Platter Guide”, entre as quais cabe destacar:

1. Muldersboch Vineyards (de Stellenbosch);
2. Warwick Wine Estate (de Stellenbosch);
3. Groot Constantia Estate (de Constantia);
4. Morgenhof Wine (de Stellenbosch);
5. Rust en Vrede Estate (de Stellenbosch);
6. Simonsig (de Stellenbosch);
7. Meerlust Estate (de Stellenbosch);
8. Fleur du Cap (de Stellenbosch);
9. Beyerskloof Wines (de Stellenbosch);
10. Nederburg Wines (de Paarl);
11. De Wetshof Estate (de Robertson);
12. Cabrière Estate (de Franschhoek Valley);
13. La Motte (de Franschhoek Valley); e
14. Plaisir de Merle (de Franschhoek Valley).


VI.    TENDÊNCIAS DA VITIVINICULTURA

VI.1.  NO MUNDO

105.  Novas circunstâncias, tais como a necessidade de adaptação à última crise econômica internacional, quedas na produção e no consumo, restrições ao consumo de álcool, impostos crescentes, protecionismo, novas regras no âmbito da União Européia e o processo climático de aquecimento global, têm  configurado um verdadeiro “terremoto” que parece ameaçar o costumeiramente pacato e tranquilo mundo dos vinhos de qualidade.

106.  A Itália, país onde os vinhos brancos respondem por metade das vendas, tornou-se em 2008 o maior produtor mundial de vinhos, não por ter aumentado ou melhorado seus vinhedos e sim por uma nova diminuição nas colheitas francesas. A produção mundial em 2009 (ano em a França retomou o 1º. lugar em produção, mas em quantidade muito pouco superior à da Itália) foi de 26,8 bilhões de litros (2/3 oriundos da Europa), com um recuo de 1,5% em relação a 2008, em decorrência da crise econômica global que forçou a mudança de hábitos dos consumidores, que começaram a preferir vinhos mais baratos, favorecendo países grandes exportadores como Austrália, Chile, Argentina e  África do Sul.

107.  O consumo também está em leve queda. Há uma década, quatro dos maiores bebedores do mundo (um francês, um italiano, um espanhol e um português) juntos liquidariam com 200 garrafas em um ano, mas hoje só bebem 168. Na Eupopa, são três as causas para a queda nas vendas: a crise econômica, condições climáticas desfavoráveis e o impacto das políticas governamentais (que não são novas, mas estão mais rígidas) de restrição ao álcool para os que dirigem. Consumidores franceses estão preocupados, achando que a tendência é a adoção de mais políticas proibicionistas. Em alguns países são cobrados impostos cada vez mais altos sobre bebidas alcoólicas, aumentando o seu preço final. Em contrapartida, na Hungria o imposto é zero para os vinhos nacionais (situação que retrata o sonho, por exemplo, dos produtores brasileiros para enfrentar a invasão argentina). Os britânicos são inventivos e discutem a redução no tamanho das garrafas e das taças para forçar um menor consumo.

108.  A reforma do setor vitivinícola aprovada pelo Mercado Comum Europeu entrou em vigência, objetivando reduzir a superprodução e ganhar competitividade no mercado global. O argumento para a adoção de medidas nitidamente protecionistas é que seus produtores são menores do que os dos países rivais e estão em desvantagem diante das principais redes varejistas que compram em grandes quantidades. Esta  refoma destina, até 2013, recursos para modernização da cadeia de produção, conversão de vinhedos e eliminação, a partir de 2010, de 175 mil hectares plantados, para conter o aumento de estoques; ademais, objetiva maior apoio à divulgação no exterior, além de prever uma simplificação dos regulamentos e dos rótulos, enfatizando as denominações de origem controlada. Produtos dos Estados Unidos vendidos na Europa terão de retirar de seus  rótulos expressões como “chateau, tawny, ruby, vintage”, repetindo o que já tiveram que fazer com seus “champagnes”, que viraram “espumantes”.

109.  Não é novidade que uvas viníferas se desenvolvem idealmente numa faixa de uns 2.200 km de largura ao redor do mundo entre 30 e 50 graus de latitude ao norte ou ao sul da Linha do Equador (os vinhedos mais ao sul se situam na região “Central Otago” da Nova Zelândia, perto do paralelo 45 sul, e os mais ao norte em “Flen” na Suécia, exatamente no paralelo 59 norte), onde o clima é temperado, com invernos úmidos e verões secos. Assustados com as mudanças climáticas em curso, produtores de regiões tradicionais pressionam seus governos para adotarem medidas de contenção do aquecimento global e alguns líderes, como o Presidente da França, se manifestaram duramente a respeito na Cúpula sobre Clima realizada em Dezembro/2009 em Copenhagen.

110.  Se tudo continuar como está, a temperatura média na Terra terá dois graus a mais ao final do século XXI e então as áreas mais favoráveis ao cultivo de uvas viníferas terão se deslocado cerca de 9 graus de latitude na direção norte (algo como 1.000 km para norte). Com isso, regiões nobres como a Borgonha mudarão seus cultivares ou cederão sua primazia, por exemplo, para vinhedos no entorno de Amsterdam e nos condados de Kent e Surrey (que já possuem extensos parreirais) ou em Liverpool, recuperando uma tradição vinífera que os ingleses perderam há 600 anos.  Áreas baixas de Mendoza e do Valle del Maipo deslocar-se-iam para colinas e  montanhas a fim de compensar o aumento de latitude. Hoje, os vinhos leves da Alsácia e da Alemanha já estão se tornando mais encorpados e países de clima frio como a Suécia e o Canadá (cujo único produto competitivo é o Ice Wine, um vinho de sobremesa proveniente de uvas congeladas no pé) começam a pensar num futuro promissor no mercado internacional.

VI.2.  NA ÁFRICA DO SUL

111.  A indústria de vinho da África do Sul tem sido liderada por várias organizações do setor privado e por agências governamentais.  Diferentemente de outros países do Novo Mundo produtores de vinho, essa indústria é largamente influenciada por algumas grandes cooperativas. A cooperativa KWV foi a primeira a ser criada, através do financiamento e encorajamento do governo da África do Sul, como um instrumento que poderia estabilizar e fazer crescer a indústria de vinho. Como a KWV passou a ser uma entidade privada,

algumas de suas responsabilidades regulatórias passaram para outras entidades, tais como o “South African Wine & Spirit Board”.

112.  O “South African Wine & Spirit Board” executa um programa de certificação, de adesão voluntária, que

permite que os vinhos sul-africanos sejam certificados quanto a sua qualidade e à fidedignidade de seus rótulos. Adicionalmente a serem submetidos a vários padrões de rotulação, vinhos são avaliados através de degustações “às cegas” por um painel de especialistas em qualidade e são submetidos a um teste analítico para detecção de eventuais imperfeições. Estes testes são voluntários, mas vinhos que a eles não sejam submetidos estão sujeitos a avaliação aleatória, por exigências de preservação da saúde do consumidor.
113.  Este “Board” também administra o “South African Wine Industry Trust (SAWIT)” que serve como financiador para o marketing e o desenvolvimento do setor vitivinícola sul-africano. Estabelecido em 1999, através de um acordo entre o governo da África do Sul e a KWV, o SAWIT opera no sentido de promover e ampliar a exportação do vinho sul-africano e de prover o desenvolvimento de novas tecnologias e de programas de educação na área vitivinícola. Adicionalmente, o SAWIT trabalha em conjunto com o programa “Black Economic Empowerment (BEE)” para promover o envolvimento da comunidade negra na indústria de vinho sul-africana, incluindo oportunidades de se transformarem em proprietários de vinhedos e de vinícolas.

VII.   CONCLUSÃO

114.  Atualmente, os melhores vinhos da África do Sul já são reconhecidos internacionalmente quanto a  sua qualidade e os vinhos da categoria “easy-drinking”, não raro, apresentam muito boa relação entre custo e benefício, quando comparados com os seus similares fabricados em outros países.

115.  Com a tradição e influências adquiridas, através de mais de 350 anos, de várias colonizações européias e com a assimilação de métodos e procedimentos praticados por países do Novo Mundo, a vitivinicultura da África do Sul acabou por passar a produzir vinhos com uma característica que os classifica como “vinhos diferenciados”, por retratarem, ao mesmo tempo, o perfil mais sofisticado, delicado do Primeiro Mundo e o perfil mais arrojado, ousado do Novo Mundo.

116.  Essa característica de vinho diferenciado, mas que pode alcançar elevados padrões de qualidade, indiscutivelmente traz para o produto uma certa atração, decorrente do seu estilo singular. E isso, aliado aos preços dos vinhos sul-africanos, oferece possibilidades de marketing que podem ser aproveitadas para enfrentar os desafios da economia global.

117.  Na África do Sul, o processo, já bastante implementado, de renovação de vinhedos e de exploração de castas viníferas mais consentâneas com as preferências do mercado e o foco para privilegiar a qualidade continuam vivos e atuantes, criando perspectivas positivas de competitividade para o País.

118.  Hoje, uma entusiasmada legião de jovens vinicultores desenvolve sua herança, tirando vantagem de seu “terroir” para produzir vinhos vencedores em competições internacionais e exportando-os para mais de 80 países. Além disso, o País dispõe de um potencial de exploração de novas regiões vinícolas com “terroirs” característicos que podem, no futuro, propiciar agradáveis surpresas para a indústria de vinho.

119.  Alguns consideram que a indústria de vinhos da Região do Cabo está mais sujeita a modismos e novidades do que a de qualquer outra região vinícola no mundo. Sendo isto verdade ou não, é indiscutível que a vitivinicultura da África do Sul se desenvolveu enormemente nos últimos anos, especialmente para recuperar o tempo e o espaço perdidos na era do “apartheid”, passando a produzir Chardonnays, Sauvignons Blanc e modernas versões de Chenin Blanc de boa qualidade e, em especial, dando também um grande salto de qualidade na produção de tintos Cabernet Sauvignon, Shiraz e Pinotage, com destaque para os tintos “blend” do Cabo.

120.  Também cabe registrar que é frequentemente dito que as terras onde se encontram os vinhedos da Região do Cabo se situam  entre as de mais belo cenário no mundo. Por este motivo, o turismo do vinho é um dos setores em crescimento no País.

121.  Em resumo, a África do Sul conta com condições geográficas e climáticas favoráveis, com potencial de crescimento tecnológico e de exploração de novas regiões vinícolas, com a tradição vitivinícola adquirida ao longo de mais de 350 anos, com a assimilação dos progressos conseguidos por seus parceiros internacionais do Novo Mundo, com um grande mercado interno ainda a conquistar, com os estimulantes resultados obtidos em poucos anos após a era do “apartheid”, com um vinho classificado como diferenciado e tradutor das culturas dos Primeiro e Novo Mundos e com a necessidade de reposicionamento dos países produtores europeus para se ajustarem às novas condições do mercado em decorrência da última crise econômica.

122. Com isso, a África do Sul, desde que preservados o compromisso com a qualidade e o nível de preços dos seus produtos, tem ótimas condições, como já demonstraram outros países do Novo Mundo, de ser cada vez mais competitiva no mercado e de expandir sua participação relativa nas exportações de vinho, especialmente se conseguir mais penetração no mercado americano.

Principais Fontes:

. Wikipedia

. Wine Institute (Califórnia)

. Wines of South Africa (www.wosa.co.za)

. Associação Brasileira de Sommeliers

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